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Publicado em: 04/12/2024
Ciro Nogueira

Opinião do Presidente: O centro nunca foi direita nem esquerda, mas conservador

*Artigo do senador Ciro Nogueira publicado na Folha de S. Paulo

A polarização é uma toxina política que causa alucinações e, como todas, parecem crônicas, mas são efeitos passageiros. O princípio ativo dessa vertigem é o de que todas as formas de pensamento, concebidas ao longo de toda a história, se resumem a dois polos mutuamente antagônicos.

A questão é que, no auge dessa patologia, os setores de centro do espectro político quase de forma magnética se viram forçados a fazerem opções não pelo apoio a pautas de um dos polos, mas à repulsa a pautas que um outro polo pudesse representar.

Essa escolha de Sofia é a síntese do que há de pior na polarização: escolher não o melhor, mas o menos pior, porque a oferta final da polarização é optar entre o ruim e o pior. Daí a sua toxicidade política. Isso significa que o centro nunca teve posições? Não. O centro nunca foi de esquerda ou de direita, mas sempre foi e é conservador. Foi assim na Constituinte, por exemplo.

O extremismo de raiz soviética, antes da queda do Muro de Berlim, queria implantar ideias atrasadas na Carta Cidadã. E o centro agiu para conservar.

Conservou os direitos trabalhistas de Getúlio Vargas. Conservou o direito à propriedade e, ao fazê-lo, a paz social. Conservou o tecido da sociedade brasileira, sem impedir avanços históricos como o SUS, a aposentadoria para os trabalhadores rurais e tantas outras conquistas do Estado democrático de Direito.

Foi o centro que ajudou a dar fim ao regime militar, ao criar a Frente Liberal que viabilizou a eleição de Tancredo Neves. Era necessário, na época, conservar a estabilidade do país após 21 anos de um regime que se exaurira e era preciso construir uma solução política dentro da realidade e das correlações de força daquela quadra.

Foi o centro que ajudou a conservar a democracia na primeira crise do presidencialismo após a redemocratização, no impeachment do primeiro presidente, garantindo que não houvesse fraturas institucionais.

Foi o centro que apoiou o Plano Real, contestado pelo radicalismo da oposição, e ajudou a conservar a solidez de nossa economia e a vida dos mais pobres, com o fim da hiperinflação.

Foi o centro também que, diante do colapso do governo Dilma Rousseff (PT), teve de conservar a democracia novamente em conjunto com o Supremo Tribunal Federal, ato final presidido pelo hoje ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski.

Não foi o centro que se aproximou de Lula. Foi ele que lançou a Carta ao Povo Brasileiro, exorcizou os radicalismos que professara, montou uma equipe econômica comprometida com a responsabilidade fiscal e se deslocou para o centro.

Não foi o centro que se aproximou de Jair Bolsonaro. Foi ele que fez uma autocrítica em relação à antipolítica e entendeu a importância do diálogo com o Congresso.

Aliás, em 2002, era o PT que exibia comerciais de ratos comendo a bandeira nacional, posicionando-se contra a política (muito antes da Lava Jato), e a propaganda dizia (sempre bom lembrar): “Ou a gente acaba com eles ou eles acabam com o Brasil”.

Ser conservador não é ser reacionário, assim como os rótulos de “progressismo” adotados no passado foram codinomes para o atraso —e o país só foi salvo porque conservamos nossos valores fundamentais.

A direita também não possui o monopólio da razão e, nesse sentido, o vazio da polarização é justamente esse: a prepotência de dois extremos que se julgam ungidos.

Só conservar não é suficiente, e não conservar nada é irresponsável. Conservadorismo demais é tacanho. Extremismo demais? Também.

Temos de avançar com a certeza de que não existem fórmulas mágicas, sem alucinógenos ideológicos que entorpecem, mas apenas isso.

O centro não é uma força neutra. Nos grandes momentos, para onde tendeu o centro, verteu a história. Por isso, extremismos, venham de onde vierem, o centro tem uma missão.

O centro não grita e nunca foi protagonista; nem é a sua vocação. Mas ajudou e ajudará sempre o Brasil a corrigir seus rumos. Porque o que importa é “Ordem e Progresso”. E, toda vez que esses valores foram ou forem ameaçados, o centro foi e será decisivo para conservá-los.

 

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